Embora o seu digital acusasse a aproximação da nona hora da manhã e o seu estômago já reivindicasse, grunhindo e se contraindo, o desjejum, ainda era noite. Um extenso e perfurado véu negro ainda se espraiava sob aquele céu austral. Lembrava com estranheza de que, há alguns dias, ouvira um louco e seus séquitos gritarem coisas sobre “noite eterna” e “fim dos dias” em meio a uma pavorosa folie en famille glossolálica. Persignou-se ao se lembrar disso, apesar de nunca ter acreditado naquela coisa toda de céu, inferno e nós na fronteira entre eles. Sua única companhia – assim ela achava – era uma coriza insistente que vez ou outra deixava vestígios de um perfume adocicado salpicarem-lhe o nariz, o que a assustava bastante, haja vista a rodovia deserta que seguia há mais de vinte e tantas horas.