Tiquetaque, Ar

TIQUETAQUE, AR

Carrego o tempo no meu pulso
E ele me dispara em seu impulso
Me acelera ao ponto de esquecer
Que tempo não se pode perder
O que se foi não se faz mundo

Toda essa velocidade em tudo
E essa sede vã pelo absoluto
Pedem os ternos calmos passos
Que nos esvaziam de idos rasos
Com paraísos mais profundos

Preciso mesmo é desacelerar
Ver a paisagem da vida, seu mar
Gozar cada uma das subidas
Entender todas úteis descidas
Em câmera lenta me filmar

O tiquetaquear do tempo
Nunca deixa de assombrar
Aquele que pensa que viver
É a plena arte de acumular
Para os que vivem devagar
Que se apaixonam por seus dias
O tiquetaque é só o tilintar
Do eterno brinde que é sua vida

Preciso mesmo é desacelerar
Ver a paisagem da vida, seu mar
Gozar cada uma das subidas
Entender todas úteis descidas
Em câmera lenta me filmar

Preciso mesmo é entender
Que o tempo que eu vou ver
Não vai passar de grão de areia
Na praia sideral das estrelas
Onde um castelo eu vou fazer

O tiquetaquear do tempo
Nunca deixa de assombrar
Aquele que pensa que viver
É a plena arte de acumular
Para os que vivem devagar
Que se apaixonam por seus dias
O tiquetaque é só o tilintar
Do eterno brinde que é sua vida


Pro Inferno com o Terceiro Ato

PRO INFERNO COM O TERCEIRO ATO

Acordou sem saber onde estava
Na verdade, será que dormia?
Como sonhos são para poucos
Pesadelo era o seu dia-a-dia
Deveria ser como os outros
No vil proscênio da vida
Que crime ser ela mesma
Uma violência contra a maioria

Existir não lhe bastava
Ela queria mesmo era ser
E se equalizar com a maioria
Lhe doía mais que não viver
Sua identidade definharia
Se não a pudesse transparecer
Ser apenas mais do mesmo
Era respirar um eterno morrer

Não me encontre
Quando eu quiser naufragar
Não me corrija
Quando eu errar por querer
Não rascunhe
O que eu devo usar
Não rasure
O meu mode de ser
Não simplifique
Meu complicado pensar
Não padronize
O meu ganhar ou perder
Desista
De me arquitetar
Pois sou caos
Ordem, ato e poder

Lembrou que estava em casa
Sob o teto que a entendia
Aquelas estranhas paredes
Suas verdadeiras amigas
Mas era hora de cair na rede
Um sorriso enlevado abria
Começaria o seu não ser
A personagem que o mundo via

Estranho, sair e se encarcerar
Um escafandro pelas ruas
Mas o aço que interpretava
Não calava sua vontade nua
Se não era, se insinuava
O desejo de ser era ranhura
Onde fugia do papel no qual
Era de todos, não era sua

Não me encontre
Quando eu quiser naufragar
Não me corrija
Quando eu errar por querer
Não rascunhe
O que eu devo usar
Não rasure
O meu mode de ser
Não simplifique
Meu complicado pensar
Não padronize
O meu ganhar ou perder
Desista
De me arquitetar
Pois sou caos
Ordem, ato e poder


Devolva-me o parafuso

DEVOLVA-ME O PARAFUSO

Tão longe, tão perto
Meus lábios te esperam
Tão grande, tão certo
Te amo e te quero

Que se dane a distância
Se eu já me lembro dos seus beijos
Navego no seu sorriso
O mais lindo dos veleiros
Você é mais que sonho
É essencial, meu elixir
E embora não tenha tomado
Você já dá biziu* em mim

E eu fico louco e finjo que você
Já está aqui
Vejo seus olhos no espelho
Eles olhando pra mim
E é seu perfume que me invade
Ao sair e ao chegar
Seu corpo nu que me aquece
Ao dormir e acordar

Enorme e perversa
A distância é uma fera
Mais forte e mais bela
A vontade se rebela

Pro inferno a sanidade
Se é você meu devaneio
Seu abraço é o meu Prozac
Suas curvas, o meu norteio
Meu delírio é sua voz
Tão gostosa de se ouvir
Um som como o absinto
E que já dá biziu* em mim

E eu fico louco e finjo que você
Já está aqui
Vejo seus olhos no espelho
Eles olhando pra mim
E é seu perfume que me invade
Ao sair e ao chegar
Seu corpo nu que me aquece
Ao dormir e acordar

Das mil vidas que vivi
É você que me fascina
De todos os nomes que escrevi
Você é o que me fulmina


Salamandra

SALAMANDRA

Eu parecia estar morto
Vivendo de sobras do passado
Mas aqueles olhos, tipo porto,
Eram céu por si iluminado

Troquei melancolia por flores
O deserto por paraíso reinventado
Dei cabo aos medos e dissabores
Ressurgi das cinzas, meio alado

Você não fazia qualquer sentido
Parecia invenção de um lunático
Meu Éden coberto de libido,
Você é calor de um fogo mágico

Me queime,
Me devore com o seu ardor
Me queime,
Me incinere sob o seu amor
Me queime,
Me faça suar em seu rubor
Me exploda,
Me deixe ser seu propulsor

Como o sol que aquece a terra,
Faz cada estação do meu corpo
Você é pulsar que me encerra
Nas labaredas de um céu louco

Seus olhos refletem o infinito
O para sempre que se apresenta
São os mais belos versos ditos
Ao nu olhar que lhes enfrenta

Seus lábios devoram mundos
Com o magma que deles flui
Dos mistérios mais profundos
São os mais belos em que fui

Sendo a estrada que vou cruzar
E a terra selvagem que desbravei
Você não para de me queimar
E sou seu combustível, agora sei

Me queime,
Me devore com o seu ardor
Me queime,
Me incinere sob o seu amor
Me queime,
Me faça suar em seu rubor
Me exploda,
Me deixe ser seu propulsor