Escrito há alguns anos para Clarice Lispector

Transgredi a cela da vida contingente.
Vaguei no encanto e não me perdi.
Vi no mundo um caminhar penitente,
A multicolor algema do agora e aqui

Vivi umas vidas em meu cárcere de carne,
Todas escritas sob meu olhar decumbente.
Era a magia léxica minha ígnea arte,
O sopro de vida sobre a morte eminente.

E agora que sou um corpo sem corpo,
A rima fugaz de uma poesia já lida,
Embora seja um livre imorredouro

No etéreo passeio sem volta nem ida,
Se um dia pensei que liberdade era pouco,
Apelido o que sonhava com o nome de vida.

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