Vejo que a treva da noite,
Excêntrica dama de virtudes turvas,
Com suas mãos rubras brandindo a foice
Dos desejos comuns à velha procura,
Comparada a nós é intensa alvura.
Pois somos o medo, nossa íntima escória,
Efêmera beleza de uma coletiva feiúra.
Cegos vagando pelos confins da história,
Somos, do mundo, uma curta memória.
Mas há em cada um uma luz profunda
Que emerge do heu de nossa paranoia,
O paraíso, onde o inferno se funda.
Também há o amor, verdugo do nunca,
Luzeiro perpétuo dos caminhos mágicos.
Dele alimentamos a chama diminuta,
Que logo consome o corpo abrilhantado.
Somos, no fim, espelhos não olhados
Refletindo o eco de um inexistente vazio,
Quando o que temos é o universo vasto
Que nos torna senhores de nosso próprio destino.

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