GRILHÃO DE OURO
Orgulho egoico (aquele que nos cerra, que nos faz donos e senhores de nós mesmos, em detrimento do outro) é para a guerra! Onde defender seus princípios e não se curvar aos interesses do inimigo é uma questão de honra. Virtuoso, apesar de impassível. No amor, porém, honroso é flexibilizar-se, tornar-se brando o suficiente para que o diálogo (de dialética) traduza bem a vontade dos dois em uma síntese bilateral. É a soma não-zero, como diria a teoria dos jogos. O orgulho (aquele sentimento de prazer em ter cumprido seu papel) virá automaticamente, em última instância, como resultado perene de um esforço que se comuta.
LETARGIA
Quão adstringentes são as horas desta constante noite!
A silhueta do surgimento de um dia é uma ilusão.
A dor que atravessa a carne e os já mortos ossos
Chega facilmente à alma, onde envenena o coração.
Os facínoras usurpadores do bom homem de Samaria,
Embebidos em sua pseudo liberdade de servidão
Demonstram com estultícia sua falsa soberania,
Condenando-nos ao abismo criado por suas mãos.
Oferecem-nos palavras doces, nos jogando absinto.
Tentam ceifar nossas almas, cegando nossa visão.
Semideuses fúteis e cruéis, titãs expulsos do olimpo,
Reis fadados a ver o próprio reino em destruição.
E o dia permanece excluso de nossos vis olhos,
Olhos que viram o caos numa terra sem salvação.
Somos meros retalhos de carne, reles destroços
De uma criação perfeita, perdida numa humana perfeição.
Renasça, ó nobre estirpe esquecida!
Ressurja, ó bela dama, chamada vida!