DESERTO DO REAL
Vã mediocridade é o amargo tempo
Estúpida relevância que damos ao ego
Reduzimo-nos a presos deste espaço
Meros brinquedos deste mundo cego
Eis as três ilusões da mera realidade
A feroz tríade que nos mantém retos
Que nos abstrai da perdida verdade
Que nos conduz ao erro, dito correto
Nos foi dado o dever de não pensar
A senil obrigação de jamais reagir
Para que o eu etéreo sempre durma
E nossos olhos se recusem a se abrir
A ponderabilidade é nossa realidade
Vivemos a mentira de tocar e existir
Somos reflexos de uma era passada
Onde sonhávamos somente ao dormir
A ignorância é, de fato, uma benção
Quando a verdade é a grande omissão
Paraísos da mente, realidade fundada
O egípcio acômodo de livre servidão
Hipocrisia consentida é o que respiramos
E o amor se esvai por nossas mãos
Essa terra em que hoje nós pisamos
É o mar de cinzas da real extinção
Sonhador Nebuliforme
Me queime, ó gênese de tudo que há.
Reacenda em mim a chama que só você alimenta.
Já que faz a existência brilhar,
Faça de mim um estandarte que te ostenta.
Nomeie-me cavaleiro sob o seu luar,
Guerreiro noturno do lirismo que reinventa,
No doce mundo em que basta sonhar,
Na utopia dos tempos que o passado isenta.
Me afogue nesse oceano de verdades
E ressuscite-me com a valia do seu nome.
Leve-me ao temido olho da tempestade,
Onde a coragem nasce e o medo se esconde.
Lute comigo contra a minha animalidade,
Fonte do mal que a mim mesmo consome.
Matemos também minha vã humanidade,
Que alimenta meu ego, enquanto morre de fome.
Estou meio morto nesse claustrofóbico nada,
Vivendo a angústia que de mim se enfada,
Esperando te encontrar sem estar vendo:
Uma pétala destinada em busca do vento.
O bramido carmim ecoa em meus lábios,
Enquanto sussurro por sua manifestação,
A poderosa presença, o êxtase dos sábios,
A magia infinita que habita um coração.
Deixe-me entrar em seus versos fantásticos
E metamorfosear-me em sua inexatidão,
Me inebriar, dançando em seus cenários,
A canção dos eternos, que vêm e não vão.
Personifique-se a mim, ó sombra iluminada!
Que meus olhos vejam o que agora eu sinto,
Para que tudo se vá e o infinito se faça
No agora que é o que eu apenas pressinto.
Eis o chamado do receptáculo,
O clamor de quem já se sentiu
Coadjuvante desse espetáculo,
Verdadeiro herói que nunca caiu.
Consegui alcançar o graal das deidades?
Será que pude o imponderável transpor?
Te encontrar, é minha mais forte verdade.
É contigo que falo, tão facetado amor.
Imagem de Capa: "Hombre en la niebla" - Foto por cocoparisiene - Domínio Público (Creative Commons)
Título: emprestado de uma das cartas da campanha Onslaught (Investida, no Brasil), de Magic: the Gathering©