AO DEUS INTERIOR
Revigore-se, alma! As sombras, nas quais se deita, aos poucos se dissipam, enquanto a luz que te deixara - quando dela mais precisava - perde sua última centelha. Este cálice de dor que hoje prova é o gral por meio do qual sua essência se lapida, é o espelho delineador de sua real e significante não-aderência. Absorva, pois, todo este "mal" que te consome! Consuma-o e faça com que as forças que aparentemente lhe causam dor tornem-se suas aliadas, seu arsenal! Incinere-se de si mesma e reconheça o elemento cinza para o qual não tardará a voltar, reconheça a vaga lembrança que te devolve ao Éden, o inegável olvido que lhe apresenta o inferno e o caminho do meio que te remete à verdade! Acorde, intangibilidade do meu eu sólido! Olhe para o mundo em que - inconscientes - todos se perdem e veja que a dor, da qual seu âmago se farta, nada mais é que um simples grão de areia da já pútrida praia da vida! Volte-se ao silêncio, onde todas canções versam a verdade, ao cemitério de razões que ressuscitam toda a real essência! Transcenda, crie, recrie, renasça! Que o mundo à sua volta tente cegar este seu escafandro de carne! Mas que sua luz - invisível aos que superficialmente enxergam - leve-me ao instante do tempo onde todo universo se fará visível ao me contemplar por dentro! E que, ao sonhar, eu perceba que é ali o lugar onde estarei, de fato, verdadeiramente acordado!
Aqui o sorriso se esboça...
LICANTROFILIA
Olhe para dentro de si, espírito ninfeu!
As brumas de agonia revelam o amor,
As rosas negras que coroam toda dor,
As algemas que te prendem ao heu.
Se faça sol nesta minha era de tempestade!
Encontre em si o espírito que é meu,
A lâmina que o próprio destino teceu,
Os védicos encantos que uivam a verdade!
Como homem, sou destruidor de mundos;
Como amante, o reinventor da realidade.
Vivo para tocar o que sempre procuro:
A volúpia vil dos seus lábios de deidade.
Sou o seu cavaleiro que habita o escuro
E a luz que busco é sua etérea beldade.
A lua te leva para a alcatéia das feras,
Mas sou eu a prata que lhe devolve a humanidade