Sou instrumento
de um todo de apenas um,
peça sem consciência,
o arauto da religião maior:
o culto ao fim do invisível.
Sou engrenagem viva
(menos viva
que a de ínfimo metal)
em rotação inerte,
tecendo o intangível.
Inconspícuo,
tranco-me de mim
para escancarar
as portas do progresso:
altruísmo iniludível.
Portas cuja paisagem
meus olhos sequer
podem experimentar.
É terra para os gigantes,
a minoria não sofrível.
Ah! E como sou feliz!
Não passo do umbral,
mas sou um artista!
Do mais áspero inferno,
pinto a eles o paraíso.
E cumpro, alegre,
o triste papel
de algoz da felicidade,
afinal eu movo o mundo,
sou seu rubro combustível.
Jogo meus sonhos
em sua fornalha, pois
são meus vapores
que alimentam
seu labor hipossensível.
Não o mundo-lar,
herança da eternidade,
mas o mundo-máquina,
a cela em falso ouro,
onde viver é dedutível.
Que ermida formidável!
Aqui somos iguais
(sem sonhos, sem vida)
criadores da vil diferença,
da posição inacessível.
Sou, enfim (e para o fim),
um crédulo romântico
que por sua fé
cega e conformada
já ama o abismo.
É esse o real ofício!
Porra primo!
Perfeito!
Excelente retrato de nossa imagem perante ao mundo capitalista.
Adorei!
Vi agora o abismo de perto, a labuta, o mecanismo de cada dia.
Você descreveu bem o universo interior em que o artista vive perante um mundo capitalista… Muitas vezes nós artistas vislumbramos um pântano e descrevemos este pântano de forma tão poética que aos olhos de muitos estamos descrevendo um campo de rosas… O artista vive nadando contra a corrente de um mundo capitalista, de um mundo máquina, de um mundo indiferente a dor do lado, às necessidades de quem está ao redor; e o artista, muitas vezes exausto, pinta a paisagem deste mundo de um jeito que só comove quem vibra a arte dentro de si mesmo.
Simplesmente perfeito!
*_*
Intenso demais… Fui e voltei, do mundo para dentro de mim.
Beijo :*
Poli
Bom!