Sou instrumento
de um todo de apenas um,
peça sem consciência,
o arauto da religião maior:
o culto ao fim do invisível.
Sou engrenagem viva
(menos viva
que a de ínfimo metal)
em rotação inerte,
tecendo o intangível.
Inconspícuo,
tranco-me de mim
para escancarar
as portas do progresso:
altruísmo iniludível.
Portas cuja paisagem
meus olhos sequer
podem experimentar.
É terra para os gigantes,
a minoria não sofrível.
Ah! E como sou feliz!
Não passo do umbral,
mas sou um artista!
Do mais áspero inferno,
pinto a eles o paraíso.
E cumpro, alegre,
o triste papel
de algoz da felicidade,
afinal eu movo o mundo,
sou seu rubro combustível.
Jogo meus sonhos
em sua fornalha, pois
são meus vapores
que alimentam
seu labor hipossensível.
Não o mundo-lar,
herança da eternidade,
mas o mundo-máquina,
a cela em falso ouro,
onde viver é dedutível.
Que ermida formidável!
Aqui somos iguais
(sem sonhos, sem vida)
criadores da vil diferença,
da posição inacessível.
Sou, enfim (e para o fim),
um crédulo romântico
que por sua fé
cega e conformada
já ama o abismo.
É esse o real ofício!

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