DEVOLVA-ME O PARAFUSO
Tão longe, tão perto
Meus lábios te esperam
Tão grande, tão certo
Te amo e te quero
Que se dane a distância
Se eu já me lembro dos seus beijos
Navego no seu sorriso
O mais lindo dos veleiros
Você é mais que sonho
É essencial, meu elixir
E embora não tenha tomado
Você já dá biziu* em mim
E eu fico louco e finjo que você
Já está aqui
Vejo seus olhos no espelho
Eles olhando pra mim
E é seu perfume que me invade
Ao sair e ao chegar
Seu corpo nu que me aquece
Ao dormir e acordar
Enorme e perversa
A distância é uma fera
Mais forte e mais bela
A vontade se rebela
Pro inferno a sanidade
Se é você meu devaneio
Seu abraço é o meu Prozac
Suas curvas, o meu norteio
Meu delírio é sua voz
Tão gostosa de se ouvir
Um som como o absinto
E que já dá biziu* em mim
E eu fico louco e finjo que você
Já está aqui
Vejo seus olhos no espelho
Eles olhando pra mim
E é seu perfume que me invade
Ao sair e ao chegar
Seu corpo nu que me aquece
Ao dormir e acordar
Das mil vidas que vivi
É você que me fascina
De todos os nomes que escrevi
Você é o que me fulmina
CASAMENTO: ELE NÃO FALIU, NÓS QUE FALHAMOS
Parece clichê, mas é isso, estou falando do casamento! Nesses últimos dias, à margem das crises política e econômica e dos incessantes vídeos de gatos fofos na internet, tenho ouvido/lido burburinhos e máximas modernas sobre a nulidade e a obsolescência programada dos laços matrimoniais. No entanto, há mais angústia e ceticismo do que motivos realmente sólidos para a crença de que o casamento não passa de um mecanismo social-religioso arcaico que perdeu a sua utilidade num tempo onde a palavra poliamor se tornou uma convicção viral.
Sou super a favor de quem opta por uma vida menos dogmatizada e livre dos padrões vigentes e de tudo que consideram ser uma falsa noção de amor fundada no colo de uma sociedade patriarcal machista. É libertário, moderno e válido! Afinal, uma simples olhadela ao redor revela uma miríade de “contratos matrimoniais” malsucedidos e uma pá de outros fadados ao insucesso. E a propaganda da amargura, intrínseca a cada um de nós, que preferimos espraiar a dor ao invés do gozo, ajuda a termos isso como regra.
Sim, é uma merda! Acontece mesmo. E com abominável frequência. Mas eu não diria que a culpa do fracasso esteja no modelo tido como cafona de amantes que se aliançam sobre um “para todo sempre” religioso a la Disney. A instituição nunca faliu, os “sócios” nela é que falham miseravelmente em administrá-la, talvez por deficiências em suas competências transversais ou por simplesmente não estarem prontos para encarar o desafio de viver a dois. Às vezes, por serem picaretas mesmo. Às vezes, por não terem pleno conhecimento do que realmente sentem. E aquela coisa de “Ah! Com o tempo o fogo esfria ou se apaga!” é o atestado da mais insólita das incertezas, a assinatura de uma confissão que diz “Tenho convicção de porra nenhuma”. Afinal, não é necessário nadar em lirismo para saber que toda chama tem de ser alimentada, senão extingue-se.
Por fim, há os que apedrejam a simples ideia ou menção da palavra e se recusam veementemente a entrar nessa enrascada. Execram, enchem de escárnio e apedrejam os “pobres idiotas” que ainda vivem a inocência de sonhar. Caros amigos, seu medo do desconhecido não o transforma no Diabo. Há esperança quando exerce-se o poder da vontade, e do amor sob a vontade.
Nem toda história de amor é uma infantil estória de amor e não é um acidente que condena todas e quaisquer viagens. Raridade é o que torna algo realmente precioso.
Originalmente publicado por mim na Revista Factual.
ELA ABRIL O QUARTO DIA
Olhar esses teus ávidos olhos
É acastanhar a superfície do mar
Onde os meus, reféns desejosos,
Nadam nus e anseiam mergulhar
É erigir estrelas e nelas caminhar,
E afortunar-se da plena certeza
De que és mundo para o qual voltar
E fruir a paz em tua beleza
E ainda há essa boca eleita,
Cujos beijos são como sonhar
Com a cena mais que perfeita
Que faz querer jamais despertar
Na tua língua é que quero ficar
Para me perder em beijos gulosos,
Ganhar teu desejo e esquecer o ar,
Respirar teus toques sinuosos
Gracioso é tudo que há em ti
Raro íntimo e fantástico externo
A tua voz é a ária que quero ouvir
Ziguezagueando em meu universo
Invisto a chama que a ti entrego
E dou-me ao fogo da tua acolhida
Logo, são tuas curvas que quero
As do teu corpo e as da viagem da vida
GRAALV ENTRE BALADA E BALAS
Superpopuloso de borboletas,
Meu estômago sente o frio
Refletido do doce arrepio
Que me dão seu olhar e silhueta.
É bem por isso que eu surrupio
Beijos quentes de seus lábios
E languidez de seus abraços,
Ainda que a distância seja pavio.
Na minha linha, você já é laço,
Estranha e premente saudade.
Desejar você é meu compasso
Na balada que é sua beldade.
Ao seu peito, de bala me faço!
O tiro que devolve sua metade.
GRITO EM PARALYAL
Não me peça para definir o encanto!
Sei lá se é sua beleza ninfeia
Ou seu olhar de odisseia
Me viajando.
Apenas sei
(E sem qualquer engano),
Em plena vigília ou sonhando,
Que ao seu sorriso eu me entreguei.
Ora, em você sou a história sem fim,
Um réu independente de lei,
A perdida ordem sem rei,
Seu arlequim.
Não, não há
Qualquer mundo confim
Que empreenda contra mim
A desvirtude de não te encontrar.
ESTÁTUA DE SAL
Adoro quando ela me olha de soslaio! Quando me perco naquelas prismáticas esferas castanhas ladeadas de negro, naqueles fugidios olhos que mais parecem um panegírico cunhado por deuses artistas. Seu olhar é um premente sortilégio, uma mágica luz que dissipa o juízo evanescente. O fugaz toque daqueles olhos nos meus são como um cáustico beijo na pálida fronte da companheira solidão, é o vento que sopra toda a cortina rota da misantropia para debaixo do tecido veludo da suma participação.
VAGAR E NÃO SE PERDER
Que mistério há nesses ternos olhos?
Nunca vistos, mas sempre tão olhados
Universos tão certos em mundos novos
Selas perfeitas para meu espírito alado
Lábios confins de volúpia e pecado
Rubro alento de meu constante sonhar
Setas de fogo que me tornam reato
Gênese do vício de não querer não desejar
Sou o refém desse esfuziante encantar
Dessa presença que desdobra a distância
Longe de mim, é o meu imerso desejar
Todo meu eu em plena dissonância
Todo o agora não compra o meu sonhar
Pois nele encontro minha doce errância
LICANTROFILIA
Olhe para dentro de si, espírito ninfeu!
As brumas de agonia revelam o amor,
As rosas negras que coroam toda dor,
As algemas que te prendem ao heu.
Se faça sol nesta minha era de tempestade!
Encontre em si o espírito que é meu,
A lâmina que o próprio destino teceu,
Os védicos encantos que uivam a verdade!
Como homem, sou destruidor de mundos;
Como amante, o reinventor da realidade.
Vivo para tocar o que sempre procuro:
A volúpia vil dos seus lábios de deidade.
Sou o seu cavaleiro que habita o escuro
E a luz que busco é sua etérea beldade.
A lua te leva para a alcatéia das feras,
Mas sou eu a prata que lhe devolve a humanidade
ELA VESTE AS SOMBRAS
O luar de prata toca a volúpia de teus lábios
Jazida rubra dos mais insolutos devaneios
Dona do perfume das belas flores de maio
E inspiração dos meus venusianos desejos
Afogo-me nos sonhos do teu profundo olhar
Estrelas de jade, contornadas de negro
Penetrantes olhos em que amo me afogar
Onde simples eu morro e ressuscito aedo
Teu lânguido corpo veste e adorna a noite
Deixando no solo a bela silhueta sob o luar
Da bailarina dos tempos que dança o hoje
Que detém a beleza que ultrapassa o olhar
A madrugada orvalha sobre tua pálida face
Na derme em que os anjos anseiam tocar
Pintura dos deuses sobre dias que nascem
Teu rosto é sol que nunca cessa de brilhar
Daria todos os sonhos para sonhar contigo
Entregaria o meu fôlego para em ti respirar
Mas a minha espera é tua presença comigo
É ácido no qual não canso de me banhar
SALAMANDRA
Eu parecia estar morto
Vivendo de sobras do passado
Mas aqueles olhos, tipo porto,
Eram céu por si iluminado
Troquei melancolia por flores
O deserto por paraíso reinventado
Dei cabo aos medos e dissabores
Ressurgi das cinzas, meio alado
Você não fazia qualquer sentido
Parecia invenção de um lunático
Meu Éden coberto de libido,
Você é calor de um fogo mágico
Me queime,
Me devore com o seu ardor
Me queime,
Me incinere sob o seu amor
Me queime,
Me faça suar em seu rubor
Me exploda,
Me deixe ser seu propulsor
Como o sol que aquece a terra,
Faz cada estação do meu corpo
Você é pulsar que me encerra
Nas labaredas de um céu louco
Seus olhos refletem o infinito
O para sempre que se apresenta
São os mais belos versos ditos
Ao nu olhar que lhes enfrenta
Seus lábios devoram mundos
Com o magma que deles flui
Dos mistérios mais profundos
São os mais belos em que fui
Sendo a estrada que vou cruzar
E a terra selvagem que desbravei
Você não para de me queimar
E sou seu combustível, agora sei
Me queime,
Me devore com o seu ardor
Me queime,
Me incinere sob o seu amor
Me queime,
Me faça suar em seu rubor
Me exploda,
Me deixe ser seu propulsor