GRITO EM PARALYAL
6 de junho de 2012POESIAPOESIA,Paixão,Amizade,Olhar
Não me peça para definir o encanto!
Sei lá se é sua beleza ninfeia
Ou seu olhar de odisseia
Me viajando.
Apenas sei
(E sem qualquer engano),
Em plena vigília ou sonhando,
Que ao seu sorriso eu me entreguei.
Ora, em você sou a história sem fim,
Um réu independente de lei,
A perdida ordem sem rei,
Seu arlequim.
Não, não há
Qualquer mundo confim
Que empreenda contra mim
A desvirtude de não te encontrar.
PELO CAMINHO I
15 de maio de 2012OUTROS TEXTOSCaminho,Lágrimas
Tudo era magia para aqueles olhos incólumes. Nunca conhecera a sensação do chorar e, ao ver a natureza turva através daquelas iridescentes e salgadas torrentes que emanavam de seus olhos, sentiu-se pertencente, participante do mundo sensível, o qual tanto desejara.
RETORNO AO CAOS
14 de maio de 2012OUTROS TEXTOSNovo,CONSCIÊNCIA
Arriscava ser pedante, mas sem chegar perto de não ser sincero, dizendo que, sob a batuta do agora, metamorfoseava-se ao avesso, livrava-se das asas, dava adeus aos seus voos, despedia-se da suposta beleza compartilhada e construía o seu casulo de reentrada, d'onde só sairá após "evoluir" para larva. Amorfo, tão vazio quanto o virgem papel esperando o contato fálico da caneta do artista, punha-se novamente à vontade do acaso, o desenhista universal, o atemporal escultor, quiçá o Demiurgo. Caberia a ele apenas inspirá-lo, para que a obra completa seja um pouco dele amalgamado a muito do mundo.
Aos que não compreendessem esse retorno causal, restava seu aceno diligente e seu último olhar saudoso, marejado de nostalgia.
ESTÁTUA DE SAL
11 de maio de 2012OUTROS TEXTOSPaixão,Mistério
Adoro quando ela me olha de soslaio! Quando me perco naquelas prismáticas esferas castanhas ladeadas de negro, naqueles fugidios olhos que mais parecem um panegírico cunhado por deuses artistas. Seu olhar é um premente sortilégio, uma mágica luz que dissipa o juízo evanescente. O fugaz toque daqueles olhos nos meus são como um cáustico beijo na pálida fronte da companheira solidão, é o vento que sopra toda a cortina rota da misantropia para debaixo do tecido veludo da suma participação.
ESTRELA VESPERTINA
28 de fevereiro de 2012POESIAPOESIA,Amor,beijos,estrela vespertina,estrelas,futuro,infinito,Undómiel
Mergulhei naqueles olhos
Já na primeira vez que a vi
Eram gemas raras, mundos novos
Espelhos do melhor de mim
Eram meu futuro, que óbvio
O infinito que eu senti ali
Labaredas escuras, vivos fogos
Impossíveis de se resistir
E quando neles eu me perdia
Sua voz doce me encontrava
Era um canto de magia
Cada verbo que falava
Um sortilégio de alegria
Que minh'alma encantava
Era a pura fantasia
Que há tempos eu buscava
Enquanto sua voz me atingia
Seus belos lábios me atiçavam
Com voluptuosa harmonia
Aos poucos me convidavam
Resistir era uma mentira
Que os meus não aceitavam
Minha sublime epifania
Veio quando, aflitos, se tocaram
E que beijo mais incrível
Tão doce e molhado
Nossas línguas em fogo vivo
Eram desejo encarnado
Dançavam ao som do riso
Silencioso daquele abraço
Experimentavam-se com tino
Aos poucos se emancipavam
E naquela noite prima
Vislumbrei dias claros
Aquele paraíso que eu via
Era sonho em letargo
Mas tudo que eu sentia
Descongelava o frasco
De onde o futuro surgia
Sem ter tido um passado
Mas o tempo é uma criança peralta
E Sua dose, por dias me negou
Quando esse doce vício passava
Quando meu céu já se desestrelava
Numa tarde ensolarada
Ela, do nada, voltou
TUDO QUE A GENTE VIVE NÃO É NADA SEM AMOR
15 de fevereiro de 2012MÚSICASAmor,Catedral,Musica
https://www.youtube.com/embed/uzoXyyi07zU
Catedral – Uma Canção de Amor pra Você
Com tanta indiferença
Num mundo de contrastes
Guerras e fome andam lado a lado
Com a dor
A vida e seu sentido
A força da verdade
Tudo que a gente vive não é nada
Sem amor
Tarde demais quando não se quer ver,
Pra não viver
É impossível andar só, então?
Não me diga que o mundo anda mal
Hoje eu nem quero ler o jornal
Só quero escrever uma canção de amor
Pra você
Há jovens nas esquinas
Com drogas nas mochilas
Curtindo uma liberdade artificial
A vida e seu mistério
A força do desejo
Sem maquiagem, a liberdade está
No coração
Tarde demais quando não se quer ver,
Pra não viver
É permitido ser feliz, então?
A OFICINA DO DIABO (AO INVÉS DO VAZIO, O CAPITAL)
18 de julho de 2011POESIAPOESIA,CONSCIÊNCIA,capitalismo,servidão,alienação,escravidão,fé,marx,trabalho,weber
Sou instrumento
de um todo de apenas um,
peça sem consciência,
o arauto da religião maior:
o culto ao fim do invisível.
Sou engrenagem viva
(menos viva
que a de ínfimo metal)
em rotação inerte,
tecendo o intangível.
Inconspícuo,
tranco-me de mim
para escancarar
as portas do progresso:
altruísmo iniludível.
Portas cuja paisagem
meus olhos sequer
podem experimentar.
É terra para os gigantes,
a minoria não sofrível.
Ah! E como sou feliz!
Não passo do umbral,
mas sou um artista!
Do mais áspero inferno,
pinto a eles o paraíso.
E cumpro, alegre,
o triste papel
de algoz da felicidade,
afinal eu movo o mundo,
sou seu rubro combustível.
Jogo meus sonhos
em sua fornalha, pois
são meus vapores
que alimentam
seu labor hipossensível.
Não o mundo-lar,
herança da eternidade,
mas o mundo-máquina,
a cela em falso ouro,
onde viver é dedutível.
Que ermida formidável!
Aqui somos iguais
(sem sonhos, sem vida)
criadores da vil diferença,
da posição inacessível.
Sou, enfim (e para o fim),
um crédulo romântico
que por sua fé
cega e conformada
já ama o abismo.
É esse o real ofício!
A DANÇA DAS FORMIGAS BRANCAS
25 de abril de 2011POESIAPOESIA,CONSCIÊNCIA,eu,liberdade,infinito,dança,alvo,dardo,formigas
É verdade que vago.
Os caminhos são
as mesmas e velhas
novas tentativas.
Mas me encontrar é raro,
pois caminho com
pernas que (estranho...)
não são as minhas.
Mesmo sabendo, não paro.
Não posso.
Não me deixam.
É a regra-mor da grande partida,
do jogo veloz de um mundo raso.
Trazem-me loucura,
quando vislumbro a sanidade,
quando vejo a afável mentira.
Daí retorno-me ao casco,
onde posso ser louco
sem que assim me chamem.
De volta à estúpida família!
E como ser esfera num mundo de dados?
Como se tornar ex-fera?
Como ter uma única face?
Como ser, da massa, a ilha?
E é por isso que vago.
A esmo, dou-me à sorte.
Com um pontapé no super-ego,
desvencilho-me da trilha
e enveredo-me, alado.
Trafego as estrelas
sem perguntar os seus nomes
e dispenso qualquer guia.
Me perco em seu leito vasto,
copulo com o infinito
na esperança (vil)
de gerar a fantasia.
Nela, retomo meus passos.
Olhos despertos
e mente escancarada.
Faço do eu a minha própria dinastia.
É bem verdade que vago.
Governo o reino
de nenhum súdito,
o vilarejo da selva da vida.
Sou, do universo, o dardo
lançado pelo tempo,
seta em movimento
sem volta, nem ida.
INSIGHT PÓSTUMO
31 de janeiro de 2011POESIAPOESIA,Clarice Lispector,liberdade é pouco,post mortem,vida
Escrito há alguns anos para Clarice Lispector
Transgredi a cela da vida contingente.
Vaguei no encanto e não me perdi.
Vi no mundo um caminhar penitente,
A multicolor algema do agora e aqui
Vivi umas vidas em meu cárcere de carne,
Todas escritas sob meu olhar decumbente.
Era a magia léxica minha ígnea arte,
O sopro de vida sobre a morte eminente.
E agora que sou um corpo sem corpo,
A rima fugaz de uma poesia já lida,
Embora seja um livre imorredouro
No etéreo passeio sem volta nem ida,
Se um dia pensei que liberdade era pouco,
Apelido o que sonhava com o nome de vida.