Nossa 4ª dimensão sempre encantou e intrigou a poesia, filósofos, cientistas e pensadores de todos os credos e em todas as épocas. Seja como uma destruidora força invisível ou como mais uma ilusão da realidade, o tempo é o que há de mais místico em nosso desespero cético. E é pouco provável que se fale de tempo sem se lembrar daquilo tudo que ele “leva”, principalmente a juventude, a flor da nossa idade. Somos imaturos – intelectual e espiritualmente falando – para aceitarmos com naturalidade e paz o avanço dos anos e o nosso regresso ao pó. E, ao contrário do que se possa pensar, não é a morte que nos assusta, é a velhice, o fim do vigor da juventude.

Pensando nisso, lembrei de três músicas que retratam ambos os temas sob diferentes perspectivas e símbolos: We All Die Young, do Steel Heart (confesso que prefiro a performance da fictícia Steel Dragon); Forever Young, da performática banda oitentista Alphaville; e Who Wants to Live Forever, música tema de Highlander, eternizada na voz expressiva do grande mestre Freddy Mercury, do Queen. É claro que existem MUITAS outras músicas que tratam do tema, como Tempo Perdido (Legião Urbana), só para dar um exemplo, mas escolhi estas pela dramaticidade das letras e das interpretações.

STEELHEART/STEEL DRAGONS – WE ALL DIE YOUNG

Todos morremos jovens? Não se sabe ao certo se Miljenko Matijevic compôs esta música tendo como inspiração sua própria vida, mas o fato é que ela descreve a miserabilidade da nossa passagem por este mundo, nossa resignação e conforto. Desperdiçamos nosso tempo, sendo escravizados por um sistema que nos mantem “funcionantes” para conseguir ao menos nos alimentarmos. Estamos tão mortos quanto Sísifo, num trabalho constante e estéril. Assim como ele, vivemos empurrando os nossos sonhos – os quais transformamos em pedra – morro acima, mas nunca conseguimos colocá-los para fora do precipício. Nos silenciamos e acabamos sofrendo a sós. A juventude, aqui dita, se trata de imaturidade, de falta de desenvolvimento, de um nanismo socio-humano-cultural e individual. “Morremos” ainda na juventude (a cronológica mesmo) e falecemos juvenis, sem a carga de crescimento que a vida e este tempo vivido poderia ter dado. É… nós morremos jovens.

ALPHAVILLE – FOREVER YOUNG

Uma ode à juventude, com certeza! Mas também um convite à reflexão. Há uma música no ar, tocada por homens loucos para homens tristes. E há o convite para dançá-la com elegância, por um instante. Regras! E esta sintonia que alcançamos ao “louvar” os nossos líderes? Não seria uma padronização generalizada? Uma metáfora para o controle inquestionável e morte da individualidade (não individualismo). “Eternamente jovem” é, na verdade, uma alegoria para rebeldia, para a luta pelo direito de pensar. É do espírito jovem que se trata esta música. Você realmente quer (sobre)viver para sempre? Não seria melhor ser ser “eternamente” jovem! Já diziam os poetas que o tempo se eterniza no instante ou em certa porção de tempo. É a nossa vontade que detém tal poder.

QUEEN – WHO WANTS TO LIVE FOREVER

A mais romântica das três! Quem é que gostaria de viver para sempre, conhecendo as vicissitudes deste mundo? Ainda mais quando se sabe que o livre arbítrio é um engodo e que a mais sólida noção de controle sobre sua própria vida nada mais é que uma mera braçada num mar de determinismo. A eternidade é muito para os que esperam e muito pouco para os que amam. Como citei na música acima, resta viver a eternidade em cada segundo do hoje.

MAS E O TEMPO E A JUVENTUDE?

Enfim, é a nossa consciência que transita na assombrosa via das horas. E se esta estrada invisível, que é o tempo, permite-nos a dinâmica da consciência, resta-nos a missão de descobrir (ou redescobrir) como dourar nossas faces frente ao sol da eternidade. Os ponteiros do relógio só giram para que lembremos que estamos em movimento e que devemos encontrar a nossa homeostase venal. A juventude é um status que independe de uma contagem cronológica, de um rótulo escrito por esta ilusão pavimentada. A juventude é o caráter que nos tira da posição de potência e nos impulsiona para sermos ato. Tudo, no fim, se resumiria a uma frase que atravessa séculos:

“Carpe diem quan minimum credula postero!” ou “Aproveite o dia como se não houvesse amanhã”.