Eu e meus hiatos, hein, gente? Mas vamos lá! Faz parte, não é mesmo? É a falta de tempo, típica de um proletário (a tal Oficina do Diabo, lembra?), somada ao ócio de um viciado em livros, revistas, filmes, séries, músicas e – acreditem se quiser – games. Mas não estou aqui hoje para dar as velhas desculpas que tentam encobrir a pura e simples preguiça e a indisciplina intrínseca, mas para, num ato de desabafo ou catarse (que seja!), erigir um rol de 10 características/atitudes que fazem de um(a) babaca um(a) babaca. Aliás, é um manual de como ser babaca (três vezes, que é para calcinar bem). Para você se encontrar ou para deixar de se perder. Confira abaixo:

1. A FALSA QUINTESSÊNCIA DOS SEUS GOSTOS

Um(a) babaca que se preze tem em mente que sua predileção é a mais acertada possível. Seu gosto é de um requinte inquestionável, fruto de uma elevada percepção do mundo e o manifesto sui generis de uma alma que frui só o que há de melhor desta terra. Para o(a) bom(boa) babaca, tudo que não está no elenco das coisas maravilhosas que ele(ela) gosta não passa de lixo ou, simplesmente, vale nada (valor esse que se estende aos indivíduos de gostos desviantes aos seus).

2. “PASSOU DO MEU QUINTAL, NÃO ME INTERESSA!”, OU APATIA SELETIVA

Já passou pela experiência de falar com alguém sobre algo, essa pessoa ouvir esterilmente e mudar de assunto como se a única coisa que tivesse ouvido segundos antes fora o cão ladrando lá fora? Regozije-se, você esteve com um(a) babaca (ou com um hiperativo, temos de admitir exceções)! O(a) babaca carrega dentro de si todas as coisas realmente interessantes que existem debaixo do céu (e até debaixo da terra). Tudo que esteja fora da sua esfera de interesses é opaco, disforme e sem cor, ou seja, sem graça. Interação e diálogo só são apreciados quando se trata de algo dentro desse microcosmo babaca, caso contrário, você vê na cara deles(as) a efígie do tédio.

3. A HECATOMBE DAS DIFERENÇAS

Não há tragédia ou desgraça maior para o(a) babaca do que pessoas diferentes do que ele(ela) é. Aqueles cuja idiossincrasia (em alguns casos mais graves, também a compleição física) esteja em dissonância com a do(a) babaca são, para esses, o que o Tinhoso é para os cristãos. Conviver, interagir ou ficar perto, por minutos que sejam, dessas “aberrações” é um sacrifício e um sacrilégio para os(as) babacas mais ortodoxos(as). Por esse motivo, oportunidades de maldizer, ignorar e, deliberadamente, maltratar – ainda que de forma sutil – não são desperdiçadas.

4. PARECE GROSSERIA, MAS É SÓ SINCERIDADE

Todo(a) babaca leva consigo a máxima “Não é grosseria, é sinceridade”. Embora a sinceridade sem tato seja como uma metralhadora nas mãos de um fundamentalista cego, o(a) babaca crê piamente que toda e qualquer gentileza não passa de bajulação. Ele(ela) vê sua arrogância, aspereza e estupidez “sinceros” como atestados de sua índole imaculada e personalidade célebre. E para vestir de vez a beca de vulto memorável e ser humano alfa blindado, o(a) babaca deve ostentar o bom e velho discurso do mimimi alheio, ou seja, se alguém sentir-se ofendido pela sua enxurrada de sinceridade, deve ser repreendido como um melodramático fraco e carente.

5. QUE “TO HELL” O QUÊ! “HIGHWAY TO” MEU UMBIGO

Pro inferno com “todos os caminhos levam à Roma”! Todos os caminhos culminam no microcosmo do(a) babaca. Tudo que existe, tudo que acontece e o que deixa de acontecer só o são por causa dele(a). Tudo e todos orbitam a altivez do sol fascinante que ele(a) é. E a lei máxima desse sistema babacossolar não é a da gravitação universal, mas a do “respeitem, contemplem e adorem meu brilho que vos ilumina!”, lei esta que, se ferida, só resulta em caos.

6. CINISMO, VULGO GIGANTISMO RETÓRICO

Os discursos do(a) babaca são todos de uma acidez ímpar. Cinismo, sarcasmo e ironia são os anabolizantes que o inflam e enaltecem ante ao seu interlocutor. Um(a) babaca vê como uma puta falta de tempo aquela conversa em que não conseguiu reduzir, ainda que subliminarmente, o seu ouvinte (sim, o[a] babaca adora ser ouvido) ao ser desprezível, pequeno e desinteressante que qualquer um deve ser diante de sua enlevada estatura intelectual e opulenta (e vil) presença de espírito. Além dos recursos de desprezo oculto, o(a) babaca sabe elencar as melhores formas de contar vantagem de acordo com o receptor-alvo que está tentando converter em esterco com seu e(go)vangelho.

7. A SÍNDROME DO AMOR ÚNICO, OU IDIOTA DEMAIS PARA COMPREENDER OUTROS

Sim, o(a) babaca também ama – ou acredita que o faz. Todavia, como o deus-sol que não pode deixar de ser, crê peremptoriamente que sua forma de amar – mesmo se for doentia – é a única que existe, se não isso, a mais correta. Execrando a pluralidade do gostar, o(a) babaca impõe a legitimidade da sua forma de encarar o amor e externa-lo, assim como tenta doutrinar a pessoa que “ama”, com cobranças extenuantes, para que o retribua “corretamente”. Se o(a) babaca tiver a sorte de ser amado(a) por alguém, termina por estragar tudo com a altivez de tratar esse amor como algo espúrio se esse, embora verdadeiro, passar ao largo do que ele(ela) considera “a forma correta”.

8. O MARTÍRIO EMO (NÃO, ELES NÃO MORRERAM) DO(A) BABACA

Não pense que o arcabouço de força, supremacia e inabalabilidade é o único caractere definidor de um(a) babaca. Como parte de seu mecanismo de defesa, lançar-se ao martírio faz do(a) babaca – aos seus próprios olhos – uma pessoa ainda mais imaculada do que ele(ela) pensa ser. No clímax de conflitos ou em finais inevitáveis, o(a) babaca é o(a) único(a) ferido(a); ninguém se machuca mais que ele(a). Como resultado dessa tragédia, o outro lado sempre será o monstro, enquanto o ferido, ainda mais após a superação rápida que sempre tem, será o adorável herói.

9. IRREMEDIAVELMENTE CERTO QUANDO IRREFUTAVELMENTE ERRADO

O(a) babaca nunca erra. Fato. No máximo, pega um atalho meio errado para dar de encontro com o acerto. Independentemente do que o resto do mundo pense ou diga, tudo o que ele(a) diz não é menos que a verdade, tudo o que faz é justo e correto e tudo o que pensa compõe inequívocos tratados. Parafraseando o Professor Girafales, o(a) babaca só se engana quando pensa estar enganado.

10. A IRREPREENSÍVEL E INIMPUGNÁVEL (E INGÊNUA, COITADA) PERSONALIDADE DELIRANTE

E, como ele(a) nunca erra, jamais deve ser corrigido(a)! O(a) babaca encara como afronta e ofensa imperdoáveis qualquer tentativa de repreendê-lo(a) ou qualquer insinuação de que ele(a) esteja errado(a). Já que se trata de uma seta certeira atirada ao mundo pelas mãos da vaidade, é inflexível e inquestionável. Qualquer tentativa, ainda que gentil, de apontar seus erros não passa de despautério, loucura, inveja e a mais herege e estúpida demonstração de nanismo declarado frente ao seu incômodo fado ao sucesso.

Se ao menos 5 destes pilares lhe parecerem familiares, meus parabéns! Se não for um(a) completo babaca, conhece algum(a).

Ser babaca é um paradigma que – ao contrário do que se lê em livros de auto-ajuda – não pode ser quebrado. Como qualquer outro paradigma, deve ser substituído por um novo. Essas marcantes facetas que traduzem apenas um pouco do que é ser um(a) babaca podem ajudar a metabolizar essa realidade pessoal numa outra melhor. Certamente, alguém vai se perguntar, também, o porquê de tantos parênteses com flexão de gênero. Esse recurso foi usado para ressaltar que a babaquice transcende gênero e não é doença só de menino ou só de menina. É algo do caráter e, muitas das vezes, da falta dele. Ah! E não vamos confundir o(a) babaca com o(a) canalha, o(a) idiota ou com o(a) promíscuo(a), ok? Esses são assuntos para um novo rol de pilares.