— Epifânico! – jubila-se meu íntimo
É que a aurora centelhou seu fogo
Eis o anjo que me devolve ao todo
A pira que me livra do medo ínfimo

Panaceia da memória dos meus ais
Você é, dentre todas, absoluto arrimo
Da geografia deste espírito, o cimo
Fôlego que, aos beijos, me inspira vendavais

Seu toque urente, em minha pele arde
Dos seus lábios, os meus pedem mais
Pois fez de mim seu amante salaz
Cuja volúpia já é minha arte

Sou sua morada e você é o meu castelo
No bis das horas é minha terna novidade
Voz que se anuncia tão cedo quanto tarde
Nas paredes inócuas desse pesadelo tão belo

(Re)sinto os solfejos vindos da minha alma
Ao gozar da gênese deste façanhoso elo
Ao enxergar seu rosto, mesmo quando cego
Ao ver em seus olhos a virtude que acalma

Percebo agora que o medo que eu sinto
É da indizível coragem que me embriaga
Da certeza que sinto em seu falar de maga
De quando me perco em seu olhar-labirinto

Te toco como um músico virtuose
Interpretando a sinfonia de uma vida
E em cada nota, reinvento um toque
Assim nossa partitura se orna em dita

Rogo-lhe que me ensine a voar não tendo asas
Que, aos poucos, me inspire canções desveladas
E que seu laço me ensine a amar sem amarras

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